Crítica | Memórias de um Caracol
- Cinema ao Máximo
- 12 de jun.
- 2 min de leitura
Tragicomédia habilidosamente combina a magia do stop motion com uma história melancolicamente profunda, abordando as vicissitudes da vida cotidiana

Sou super fã de animações stop motion, especialmente porque muitas delas são responsáveis por nos trazer histórias mais maduras. Por exemplo, "The House", que aborda temas como loucura, riqueza e a busca pela verdadeira felicidade, e "Anomalisa", que trata da síndrome de Fregoli. Entre esses títulos mais sérios, também está "Memórias de um Caracol", uma tragicomédia australiana de 2024 que conseguiu emocionar elevadamente quem assistiu, ao mostrar de forma bem detalhada as crises difíceis na vida da garota solitária e desajustada Grace Pudel.
O enredo segue a protagonista desde a infância até a fase adulta, mostrando ela sentindo a perda de pessoas importantes em sua vida. Essa experiência acaba agravando ainda mais a confusão do seu dia a dia. Dirigido por Adam Elliot, que também criou "Mary e Max: Uma Amizade Diferente", o longa não hesita em nos surpreender com situações bastante chocantes e tristes, que acabam dominando a trajetória desordenada de Grace Pudel, uma colecionadora de caracóis ornamentais.
Misturando momentos de tristeza e humor de uma maneira bem diferente, "Memoir of a Snail" é um filme que talvez não agrade a todo mundo, mas que vale a pena assistir, singularmente por abordar um tema muito atual: o nosso vazio existencial. Ele nos leva por uma viagem única e cheia de emoções sobre a solidão. Com cenas fartamente excêntricas, a produção traz mensagens fortes, explorando questões como depressão, isolamento e a procura por quem somos e pela nossa força para seguir em frente.
Sendo alguém que passou a infância ao lado de seus entes queridos, Grace Pudel sentiu intensamente o impacto de ser separada de seu queridíssimo irmão gêmeo, o pirofagista Gilbert, após a morte de seu pai, Percy, um ex-malabarista que, infelizmente, se tornou um alcoólatra e ficou paraplégico. O sentimento de melancolia ao ser forçada a trilhar um caminho sozinha dominou sua psique, levando-a a desenvolver algumas dependências prejudiciais à sua saúde, como a peculiar paixão por colecionar caracóis.
Cada cena absurda que surgia na tela me deixava profundamente lamentoso ao acompanhar a jornada desoladora dos irmãos Grace e Gilbert. Meu coração se encheu de emoções complexas, tanto positivas quanto negativas. É impressionante como a narrativa dessa obra consegue ser simultaneamente engraçada e tocante de um jeito que corta o coração. Assim como os caracóis de estimação que ela considera seus melhores amigos, Grace Pudel apenas deseja se esconder dentro de sua concha e escapar do mundo.
O filme traz personagens com dilemas verdadeiros e autênticos, e com a magia do stop motion, o drama da Grace fica ainda mais palpável, capturando cada gota de sangue, suor e lágrimas em detalhes impressionantes. E não podemos esquecer a fotografia fantástica, que aposta em uma estética sombria e desbotada, com tons sépia que mergulham a gente numa atmosfera tristonha e intensa do começo ao fim.

Pedro Barbosa
Sinopse: Após uma série de infortúnios, uma desajustada e melancólica colecionadora de caracóis aprende a encontrar confiança em si mesma em meio à desordem da vida cotidiana.
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